Demanda por Inteligência Artificial Impulsa Recorde nas Ações de Energia Nuclear
As ações de empresas do setor de energia nuclear alcançaram níveis recordes nesta semana, impulsionadas por acordos estratégicos firmados entre gigantes da tecnologia como Amazon e Google. Esses contratos marcam um avanço significativo nos esforços para a implantação de pequenos reatores modulares (SMRs) nos Estados Unidos, promovendo uma nova era na produção de energia. O objetivo principal desses acordos é fornecer eletricidade de baixa emissão de carbono, essencial para alimentar os centros de dados que sustentam a inteligência artificial empregada por essas empresas.
Segundo informações do Financial Times, as ações das desenvolvedoras de SMRs – Oklo e NuScale Power – registraram um aumento impressionante de 99% e 37%, respectivamente. Este crescimento é impulsionado, também, pelo anúncio de acordos de financiamento por parte de concorrentes no setor, como a X-energy e a Kairos Power, duas empresas privadas focadas em reatores modulares. Além disso, empresas consolidadas no setor, como Cameco, Constellation Energy e BWX Technologies, também vivenciaram uma alta significativa em suas ações, alcançando marcas históricas ao longo da semana.
Esse panorama é interpretado por investidores como um indicativo do renovado interesse e possível renascimento da energia nuclear, especialmente após os percalços enfrentados pelo setor em decorrência do acidente nuclear de Fukushima, ocorrido no Japão em 2011. A crescente demanda por centros de dados, impulsionada pela revolução da inteligência artificial, está provocando um crescimento exponencial no consumo de eletricidade nos Estados Unidos. Essa demanda crescente torna ainda mais urgente a necessidade de reduzir a dependência de combustíveis fósseis, além de descarbonizar a economia.
A Constellation Energy, que se destaca por operar a maior frota de reatores convencionais no território americano, viu suas ações mais que dobrarem desde o início deste ano, em grande parte graças a um contrato recente de fornecimento de energia de 20 anos com a Microsoft. Esse acordo promete a reabertura da usina nuclear de Three Mile Island, na Pensilvânia, que é um local histórico marcado pelo mais grave acidente nuclear nos EUA, ocorrido em 1979, quando um dos reatores do local sofreu uma fusão parcial.
A Cameco, um dos maiores produtores de urânio do mundo, também se beneficia desse cenário e já viu suas ações aumentarem 38% até o momento. Por sua vez, a BWX Technologies, especializada no fornecimento de componentes nucleares, registrou uma alta impressionante de 65% em suas ações, refletindo a vitalidade renovada da indústria.
No entanto, a ascensão do setor nuclear ocorre em meio a preocupações persistentes sobre o papel das energias renováveis, como a solar e a eólica. Existe um debate crescente sobre se essas fontes de energia são suficientemente estáveis e economicamente viáveis para atender à demanda explosiva resultante da inteligência artificial. Apesar do entusiasmo dos investidores, há uma desconfiança em relação ao financiamento de novos projetos de reatores modulares. Os desafios incluem a reputação da indústria em relação à entrega de projetos dentro de prazos e orçamentos estabelecidos, além de fatores externos como altas taxas de juros e a escassez de clientes dispostos a financiar iniciativas com riscos elevados, como os primeiros reatores modulares.
No ano passado, a X-energy já tinha enfrentado dificuldades, sendo forçada a cancelar um acordo de US$ 1,8 bilhão para abrir capital via uma empresa de aquisição de propósito específico, devido a condições adversas do mercado. De forma semelhante, a NuScale viu seus planos de construir o primeiro pequeno reator modular nos Estados Unidos serem frustrados pela falta de interesse das concessionárias de energia, principalmente após um aumento de mais de 50% nos custos ao longo de dois anos.
Entretanto, a indústria nuclear está sendo sustentada por um influxo significativo de bilhões de dólares em financiamento do governo dos EUA. As autoridades estão se mobilizando em resposta à crescente liderança de países como China e Rússia no setor nuclear, que já implementaram reatores modulares em seus territórios. Esse movimento pode significar um ponto de inflexão para a energia nuclear, que promete retornar ao centro das atenções como uma solução viável e sustentável para as necessidades energéticas do futuro.